Reportagem da Folha de São Paulo de ontem (Terça-feira, 11 de novembro, Caderno Cotidiano, C5) tem como título "Procura por carreira que forma professor cai até 58% na Fuvest". Li a matéria, mas ainda não cheguei a conclusões. A procura por Pedagogia e Licenciaturas na Fuvest caiu numa porcentagem bem maior que a da queda das inscrições. Isso provavelmente indica desinteresse pela carreira. Mas o texto termina com a indicação de que cursos semi-presenciais de Pedagogia tiveram um crescimento de 135%. Sem os dados sobre o crescimento dos semi-presenciais em geral não podemos saber se Pedagogia teve, proporcionalmente a outras carreiras, maior ou menor procura. De qualquer forma, parece-me que as pessoas não têm achado que valha a pena sentar quatro anos nos bancos universitários para conseguir a habilitação. Se os dados da reportagem não permitem falar com absoluta certeza em desinteresse pelo magistério, pode-se dizer, por certo, que os estudantes questionam a relação investimento-retorno relacionada à formação para a profissão.
Mas, voltando ao provável desinteresse (acredito nisso, independente desses números), a reportagem traz a opinião de uma série de especialistas sobre quais seriam suas causas. Essas opiniões convergem para uma unanimidade: a baixa remuneração. Todos concordam que o professor ganha mal, tanto na escola pública quanto na particular. Eu, particularmente, acho que essa constatação óbvia tem sido evitada ou minimizada pelas administrações públicas do país, e que há até um esforço ideológico para desacreditá-la (mais de um especialista em educação jura de pé junto que professor ganha bem e maior investimento não significa mais qualidade). Assim sendo, é bom ver que essa idéia começa a incomodar a sociedade com sua evidência gritante, e que isso pode gerar uma movimentação social de apoio a muitas de nossas reivindicações.
Mas, se é para falar de causas (como os baixos salários) em relação a efeitos (a menor procura pela carreira), acho que é de se estranhar que nenhum dos especialistas tenha citado as dificuldades cotidianas dos docentes em salas de aula: violência, desinteresse, carga excessiva de trabalho, assédio moral, ruído excessivo, falta de recursos adequados etc. Esse estranhamento, para mim, é o que motiva a última pergunta da reportagem local ao vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, João Cardoso Palma Filho: "A conduta das escolas em relação aos professores contribui para o desprestígio da profissão?". Simplesmente não entendi a resposta "acho que o problema é basicamente o salário". Definitivamente, o entrevistado abriu mão da possibilidade de citar outros fatores que, para mim, são muito mais decisivos que o salário para a escolha dos jovens. Na verdade, talvez falte coragem para dizer o que as olheiras, o cansaço, o stress, o mal-estar geral estampado no rosto dos profissionais de magistério expressam com tanta veemência: está difícil lecionar. Está difícil voltar para casa com a certeza de ter conseguido contruir algo de positivo. Em muitos casos, e sei que não posso nem generalizar nem particularizar ao dizer isso, as condições têm sido degradantes para os profissionais. Vi muitos colegas ingressantes na carreira, tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura, simplesmente pedirem exoneração, em que pese a segurança e estabilidade de ser concursado. Vejo todos os dias coisas absurdas acontecerem, e ouço todos os dias profissionais que reclamam de coisas absurdas. Não, caro leitor que não conhece a área da Educação, não somos uns chorões! Pelo contrário, a maioria dos profissionais que conheço tem como característica se superar dia após dia diante dos problemas que se interpõem à sua prática.
Não tenho dúvidas de que esses fatores devem ser considerados para que se dimensione adequadamente o desinteresse dos jovens pela carreira do magistério. E também não tenho dúvidas de que, se não estabelecermos como um dos objetivos principais da educação a criação de condições adequadas para um exercício sadio e digno da profissão, não conseguiremos salvar a carreira do desinteresse e da desvalorização social que a atingiram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário