quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Entrevista com a professora Clarissa Suzuki

Por mais que queira criar aqui um espaço de discussão sobre as questões ligadas à educação, o fato de escrever sozinho torna este espaço expressão de pontos de vista individuais e particulares, ainda que reflitam demandas da profissão. Na tentativa de minimizar esse defeito, inerente às características do blog enquanto veículo midiático, inicio, hoje, a publicação de uma série de microentrevistas com profissionais da educação que considero terem muito a acrescentar para nossos debates.
A primeira delas traz a notável professora de Artes Clarissa Suzuki, com quem tive a felicidade de trabalhar há dois anos atrás. Dedicada, competente, entusiasmada e visionária, ela foi responsável por trabalhos diferenciados com os alunos que atéhoje são lembrados na escola. Militante, ela participa de um coletivo de lutas que atua dentro do SINPEEM, cujo endereço é este aqui.

Segue a entrevista:

1) Você milita pela educação já há algum tempo, participando ativamente de reuniões e manifestações do SINPEEM. Você está satisfeita com a atuação do sindicato em relação à defesa da categoria?

Não estou satisfeita com a atuação do grupo que o dirige nosso sindicato, porque o SINPEEM SOMOS NÓS, mas infelizmente ficamos a mercê das decisões pautadas nos interesses político-partidários de alguns dirigentes, no seu mandato burocrático e não na luta em defesa dos interesses da categoria. Exponho minha indignação não somente como militante sindical, mas principalmente como parte orgânica desta classe que há anos não tem aumento real de salário e não vê melhora em suas condições de trabalho e ampliação de direitos. Nós, da base, temos que buscar o debate democrático, a construção da unidade para a mobilização na luta por nossos direitos, já que esta direção não o faz, faremos nós mesmos.

2) Trabalhei com você e sei de seu profissionalismo e sua competência. Quais são os desafios, hoje, para conseguir efetivar um bom resultado em sala de aula?

Acredito que todo intelectual deva ser orgânico como nós apontou Gramsci e todo professor deva ser o exemplo da teoria que ele ensina, como nós ensinou o mestre Paulo Freire. Sendo assim, concebo que todo educador tem que ser um estudioso, um intelectual, mas, principalmente, deve ser um ativista, um conhecedor e defensor dos seus direitos e deveres, um profissional que tenha a consciência da sua função e importância social, para assim, assumir o seu legitimo papel de educador. E esse é um dos grandes desafios, o educador estar preparado para dialogar com diversas gerações e culturas, preparado para resolver seus problemas profissionais e funcionais, reconhecer os problemas estruturais que dificultam o desenvolvimento do seu trabalho e agir para que, nas esferas administrativas/políticas eles se resolvam. Porém, o bom resultado do nosso trabalho não se resume a esta consciência da nossa condição enquanto educadores, temos que encarar todos os dias a falta de condições materiais para o desenvolvimento social da população, nos depararmos todos os dias com a violência, a fome, o desemprego, a alienação midiática nos rostos das nossas crianças. Todas as novas teorias pedagógicas são eficientes no papel, mas todo este histórico que citei acima é considerado? Quando poderemos saber se nosso trabalho alcançou “seu máximo” nas condições de trabalho que temos? Quando saberemos se nossos alunos se desenvolveram plenamente considerando as mínimas condições materiais que possuem? No sistema capitalista, todo o resultado que alcançarmos na educação, nunca será parâmetro para julgar como bom resultado obtido em sala de aula, pois temos tantos empecilhos, tantos problemas, que dificilmente alguém teria um desenvolvimento pleno a partir das condições históricas que estão postas.

3) Quais são suas principais referências teóricas para embasar sua prática em sala de aula?

Marx, com o materialismo-dialético-histórico, Gramsci, Paulo Freire, Demerval Saviani, Vigotsky... Esses são os que mais leio atualmente e me identifico, mas tenho plena consciência que tudo que já li até hoje, ouvi e vivi, são referências assimiladas na minha prática.

4) Alguma vez você pensa ou pensou em largar a profissão? Por quê?

Nunca. Aliás, eu saí da esfera da produção artística para me dedicar mais à escola e à militância. Sou uma arte-educadora apaixonada pelo que faço, sonhadora e crente na transformação do homem e da sociedade. Os sorrisos, os gritos, as vidas que partilho todos os dias é o que me faz acordar muito cedo, ganhar pouco, estudar cada dia mais e ter muita vontade de fazer a diferença e não para suprir uma vaidade egocêntrica, mas por perceber que faço parte “destas histórias”, por me sentir parte orgânica de tudo que vivo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Matéria fundamental da Revista Educação

Olha, esta matéria é simplesmente excelente. Vale a pena ser lida até o fim. Houve um trabalho jornalístico sério, sem aqueles comentários infames característicos de matérias do gênero.
Em vez de discutir números descontextualizados, vamos discutir isso que a reportagem traz: o modo de vida das pessoas que trabalham com educação, e o que elas pensam sobre sua atuação social.
Note que os professores simplesmente não querem essa profissão para seus filhos, que dois deles lidam ou lidaram com situações de risco, que a voz do profissional vai sendo destruída no decorrer dos anos em função dos problemas com disciplina.
Note, ainda, que há um quadro, no final da reportagem, atestando a disposição do Estado de boicotar matérias desse tipo.

Imperdível.