Na quarta-feira que antecedeu o feriadão, veio uma banda de rock, denominada Ex-4, tocar para os alunos. Utilizaram o palco inadequado e estreito que temos no pátio para montar sua parafernália de amplificação. Os garotos se superaram e fizeram um belíssimo show, muito animado e muito bem recebido pela platéia.
Problemas, é claro, acontecem. No meio da imensa maioria que queria pular e cantar as músicas, alguns se preocupavam em empurrar os menores ou prensar os colegas mais próximos do palco. Mas é assim mesmo: para aprender a se portar em espetáculos, é preciso ter acesso a eles.
Adorei a iniciativa (creio que foi da diretora) de trazer a atração musical. Para a banda, é sempre bom. Além de formar público, eles conseguem divulgar seu material, que muitas vezes não tem tanto espaço nos meios de comunicação, e constroem uma relação de maior proximidade com futuros fãs. Para a escola, é pra lá de bom. Ela deixa de ser o espaço da bronca, da disciplina, da obrigação, para tornar-se o ambiente da alegria, da fruição, da festa. Não que se deva abandonar a ordem necessária ao desenvolvimento dos conteúdos; mas não se pode esquecer que a escola é, por princípio, espaço de socialização, que é também aprendizado.
Que venham mais bandas, de todos os estilos (rap, samba, rock, cult, o que for). Precisamos de gente que aceite correr os riscos de encarar essa meninada tão carente de tudo, inclusive de arte. Como seria bacana se as Viradas Culturais envolvessem escolas, ou se as escolas tivessem suas próprias viradas culturais de vez em quando, colocando a nosso favor toda a comunidade e valorizando o espaço da instituição como um espaço de arte, beleza, fruição, música, alegria, prazer. E aprendizagem, brotando de tudo isso.
sábado, 22 de novembro de 2008
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Celular
Cena divertidíssima ontem em sala de aula. Eu coordenava a feitura de cartazes para a Mostra Cultural, em dezembro. A classe, com maior ou menor grau de interesse, produzia seus trabalhos, quando a inspetora entrou na sala perguntando por uma determinada aluna. Como é de praxe, os próprios alunos responderam antes de mim que essa aluna não estava. Passam-se alguns minutos e a outra inspetora bate na porta da sala, perguntando pela mesma aluna. Respondo que ela não estava presente, mas dessa vez me surpreendo quando vejo uma senhora que, da porta, faz uma varredura visual na classe com seu olhar caçador. É a mãe da garota. Diz a inspetora:
- A senhora está vendo? Ela realmente não está.
Ao que uma aluninha mais despachada acrescenta:
- Ela não está porque cabulou com beltrana e foi ao shopping.
Parêntese na historinha: é muito comum as crianças terem rasgos de sinceridade e colocarem os outros em enrascadas. Geralmente, isso é um misto de irreverência e inocência, muito mais a segunda que a primeira. Garanto que a menina não pensou no que estava dizendo; tanto que eu, naquele momento, não consegui disfarçar uma risada espontânea e paternal.
Continuando: a mãe foi embora, os alunos prosseguiram a produção, e só na hora do intervalo as inspetoras me elucidaram a questão.
A mãe telefonara para a escola perguntando se a filha estava presente. A escola lhe dera resposta negativa; desta forma, ligara para o celular da filha perguntando onde ela estava. Resposta: na escola, mamãe. Na sala de aula.
Ora, a mãe, de posse dessas informações tão dramaticamente inconciliáveis, resolveu ligar novamente para a escola, perguntando da filha. Depois de uma conversa um pouco tensa, veio à instituição para conferir com seus próprios olhos o que nossa funcionária lhe jurava de pé junto ser verdade: a filha havia cabulado. Daí a fala da inspetora acima transcrita.
Situação constrangedora, sem dúvida, mas que não deixa de ter seu lado cômico, especialmente para esse meu gênio espirituoso e festeiro.
Compreendo o que sentiu essa mãe, compreendo a esperteza da menina, compreendo a posição dos inspetores, e me delicio com a cara dos alunos e a facilidade com que acabam entregando seus colegas nesse tipo de situação. Para quem está de fora, observando, é um caso curioso e engraçado. Mas não deixo de registrar um ponto que me parece importante.
A escola, como a maior parte das instituições de ensino nos últimos tempos, recomenda explicitamente aos alunos não trazerem (e conseqüentemente não usarem) celulares. Normalmente, eles servem para ouvir músicas, jogar, e fazer e receber ligações em momentos inconvenientes. Muitos pais, entretanto, argumentam que preferem que suas crianças portem o aparelho, pois o celular lhes daria a segurança de poder localizá-las, funcionando como uma espécie de GPS das mesmas. O caso relatado mostra que o homem sempre é capaz de superar a máquina e driblar a tecnologia. Não importa quantas vezes o pai ligue para seu filho: este sempre terá a capacidade de inventar alguma lorota e enganá-lo. Se o fará ou não, isso não depende do aparelho; depende do arbítrio em formação, ainda experimentando e descobrindo truques, mentiras brancas e pequenas malandragens.
Essa breve cena anedótica que vivenciei serviu-me como reforço de uma cada vez mais universal percepção da inutilidade e perniciosidade dos celulares no ambiente escolar. Mas mesmo que não servisse para isso, foi um desses raros e bacanas momentos involuntários de descontração no meio do expediente.
- A senhora está vendo? Ela realmente não está.
Ao que uma aluninha mais despachada acrescenta:
- Ela não está porque cabulou com beltrana e foi ao shopping.
Parêntese na historinha: é muito comum as crianças terem rasgos de sinceridade e colocarem os outros em enrascadas. Geralmente, isso é um misto de irreverência e inocência, muito mais a segunda que a primeira. Garanto que a menina não pensou no que estava dizendo; tanto que eu, naquele momento, não consegui disfarçar uma risada espontânea e paternal.
Continuando: a mãe foi embora, os alunos prosseguiram a produção, e só na hora do intervalo as inspetoras me elucidaram a questão.
A mãe telefonara para a escola perguntando se a filha estava presente. A escola lhe dera resposta negativa; desta forma, ligara para o celular da filha perguntando onde ela estava. Resposta: na escola, mamãe. Na sala de aula.
Ora, a mãe, de posse dessas informações tão dramaticamente inconciliáveis, resolveu ligar novamente para a escola, perguntando da filha. Depois de uma conversa um pouco tensa, veio à instituição para conferir com seus próprios olhos o que nossa funcionária lhe jurava de pé junto ser verdade: a filha havia cabulado. Daí a fala da inspetora acima transcrita.
Situação constrangedora, sem dúvida, mas que não deixa de ter seu lado cômico, especialmente para esse meu gênio espirituoso e festeiro.
Compreendo o que sentiu essa mãe, compreendo a esperteza da menina, compreendo a posição dos inspetores, e me delicio com a cara dos alunos e a facilidade com que acabam entregando seus colegas nesse tipo de situação. Para quem está de fora, observando, é um caso curioso e engraçado. Mas não deixo de registrar um ponto que me parece importante.
A escola, como a maior parte das instituições de ensino nos últimos tempos, recomenda explicitamente aos alunos não trazerem (e conseqüentemente não usarem) celulares. Normalmente, eles servem para ouvir músicas, jogar, e fazer e receber ligações em momentos inconvenientes. Muitos pais, entretanto, argumentam que preferem que suas crianças portem o aparelho, pois o celular lhes daria a segurança de poder localizá-las, funcionando como uma espécie de GPS das mesmas. O caso relatado mostra que o homem sempre é capaz de superar a máquina e driblar a tecnologia. Não importa quantas vezes o pai ligue para seu filho: este sempre terá a capacidade de inventar alguma lorota e enganá-lo. Se o fará ou não, isso não depende do aparelho; depende do arbítrio em formação, ainda experimentando e descobrindo truques, mentiras brancas e pequenas malandragens.
Essa breve cena anedótica que vivenciei serviu-me como reforço de uma cada vez mais universal percepção da inutilidade e perniciosidade dos celulares no ambiente escolar. Mas mesmo que não servisse para isso, foi um desses raros e bacanas momentos involuntários de descontração no meio do expediente.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
O caso de vandalismo no Amadeu Amaral
Menos de 24 horas depois de ter postado sobre a necessidade de compreender o desinteresse pelo magistério à luz das condições deploráveis encontradas para seu exercício, recebo uma bombástica notícia sobre um caso extremo de violência numa escola estadual em São Paulo. Creio ser própria do ser humano certa tendência a pensar "eu não disse?" quando algum de seus prognósticos é confirmado, ou quando alguma de suas análises ganha uma evidência comprobatória. Vou tentar deixar de lado a vontade de estar certo para analisar mais detidamente este episódio indigno.
O que aconteceu no Amadeu Amaral, do ponto de vista da intensidade e abrangência da ação violenta, ainda não é regra nas escolas públicas que conheço, graças a Deus. Mas as situações de descontrole e impossibilidade de contenção dos alunos são constantes, e isso é inegável. Vi episódios semelhantes; nenhum tão horroroso, mas muitos com dramaticidade similar, guardadas as proporções.
Na escola em que trabalho, o mais perto que chegamos disso foi a inundação de corredores pela abertura de hidrantes, duas vezes na mesma semana, e uma tentativa frustrada de bomba caseira, desbaratada pela ação policial. Eu estava no meio dessa cenas degradantes, tentando conter a sanha de uma horda alucinada e sedenta de reconhecimento pelas lideranças deliqüentes. Eu tive vontade de largar tudo. Graças a Deus não larguei. Entendi que muitas pessoas precisavam de minha pouca coragem restante naqueles momentos difíceis. Depois, fui deglutindo aos poucos essa experiência, e acabei me recuperando. Neste momento, portanto, minha maior preocupação é com a cabeça dos profissionais de educação e dos adolescentes que vivenciaram essas horas terríveis de barbárie, bem piores que as piores que já presenciei. Sei que não é fácil, sei que dá vontade de jogar tudo pra cima. Não sei se alguma dessas pessoas lerá este post, mas gostaria de dizer que entendo o sentimento que elas estão experenciando agora, e sou totalmente solidário às decisões que elas tomarem pensando em sua carreira ou sua integridade pessoal.
A notícia correu Brasil afora, via Jornal Nacional e Jornal da Globo. A repercussão foi tamanha que autoridades da secretaria da educação de São Paulo prometeram punição exemplar aos alunos que vandalizaram o colégio. William Bonner disse com todas as letras a palavra "expulsão", referindo-se a medidas cabíveis para punir os estudantes. E disse porque repetiu o que provavelmente aparecia em algum comunicado oficial. E eu fiquei chocado. Por dois motivos.
Primeiro, porque "expulsão" virou um termo tabu nas discussões sobre comportamento dos alunos. Há muitos anos ouço eufemismos para essa palavra, proferidos por professores, diretores e coordenadores. Visto que o aluno tem direito constitucional à escola, não se permitia dizer que ele seria expulso da mesma, mas sim transferido para outra unidade. Não se fala mais em expulsão há muitos anos no ambiente em que trabalho, pelo menos não oficialmente, e se nós ou os alunos utilizamos esse termo de forma descuidada, muitas vezes somos corrigidos pelos superiores hierárquicos. Sabemos que, na prática, a escola expulsa o aluno, mas ela nunca diz isso oficialmente, preferindo chamar a ação de transferência. Surpreendeu-me, assim, o uso tão desencabulado desse vocábulo pelos altos escalões da educação.
Segundo, porque, normalmente, a "expulsão" ou transferência de alunos das escolas é processo complicado, chato, delicado e determinado por grande número de variáveis. Quantas e quantas vezes, nesses dez anos de magistério, vi grupos de professores inconformados com a permanência de alunos na instituição em condições e situações absolutamente insustentáveis para a escola! Em post anterior, citei o caso de um aluno que deu um soco numa professora e NÃO FOI TRANSFERIDO. Repare o leitor: ele não quebrou uma carteira, ele agrediu um ser humano, e NÃO FOI TRANSFERIDO. E quando foi discutida sua situação no âmbito das questões internas da escola, em nenhum momento ninguém usou a palavra "expulsão". Há casos graves, alguns até criminais, que não resultam sequer em transferência. Quero crer que, no caso da escola depredada, há que se considerar o fator mídia: quando o acontecimento ganha os jornais e a TV, é preciso mostrar que providências serão tomadas. Mas fica uma impressão ruim: a de que agressões e ações violentas, se não ganham espaço na mídia, são minimizadas e relevadas, ficando restritas às soluções-padrão de "abafa geral" das coordenadorias, enquanto aquelas que viram notícia permitem a construção de um discurso que demonstre força e implacabilidade por parte do sistema.
Não defendo nem condeno as expulsões; essa é uma outra questão na qual nem pensei. Para mim a questão é saber se a preocupação é com a educação ou com a mídia. Porque parece-me que muitos julgam ser mais fácil lidar com a mídia que com a educação. Eu não gosto do "abafa geral", e julgo que a mídia pode jogar a nosso favor se focar o que realmente acontece nas salas de aula e nas escolas em que trabalhamos. O horroroso episódio de hoje me faz pensar que é possível recuperar uma parcela da indignação da sociedade em relação aos problemas enfrentados pelos professores. Só não acho que tenha de ser a esse preço, e por isso acredito que seja necessária uma atitude jornalística mais comprometida com a educação e suas mazelas, que não fique esperando outro espetáculo de bárbarie para tocar nas questões fulcrais que nos dizem respeito.
O que aconteceu no Amadeu Amaral, do ponto de vista da intensidade e abrangência da ação violenta, ainda não é regra nas escolas públicas que conheço, graças a Deus. Mas as situações de descontrole e impossibilidade de contenção dos alunos são constantes, e isso é inegável. Vi episódios semelhantes; nenhum tão horroroso, mas muitos com dramaticidade similar, guardadas as proporções.
Na escola em que trabalho, o mais perto que chegamos disso foi a inundação de corredores pela abertura de hidrantes, duas vezes na mesma semana, e uma tentativa frustrada de bomba caseira, desbaratada pela ação policial. Eu estava no meio dessa cenas degradantes, tentando conter a sanha de uma horda alucinada e sedenta de reconhecimento pelas lideranças deliqüentes. Eu tive vontade de largar tudo. Graças a Deus não larguei. Entendi que muitas pessoas precisavam de minha pouca coragem restante naqueles momentos difíceis. Depois, fui deglutindo aos poucos essa experiência, e acabei me recuperando. Neste momento, portanto, minha maior preocupação é com a cabeça dos profissionais de educação e dos adolescentes que vivenciaram essas horas terríveis de barbárie, bem piores que as piores que já presenciei. Sei que não é fácil, sei que dá vontade de jogar tudo pra cima. Não sei se alguma dessas pessoas lerá este post, mas gostaria de dizer que entendo o sentimento que elas estão experenciando agora, e sou totalmente solidário às decisões que elas tomarem pensando em sua carreira ou sua integridade pessoal.
A notícia correu Brasil afora, via Jornal Nacional e Jornal da Globo. A repercussão foi tamanha que autoridades da secretaria da educação de São Paulo prometeram punição exemplar aos alunos que vandalizaram o colégio. William Bonner disse com todas as letras a palavra "expulsão", referindo-se a medidas cabíveis para punir os estudantes. E disse porque repetiu o que provavelmente aparecia em algum comunicado oficial. E eu fiquei chocado. Por dois motivos.
Primeiro, porque "expulsão" virou um termo tabu nas discussões sobre comportamento dos alunos. Há muitos anos ouço eufemismos para essa palavra, proferidos por professores, diretores e coordenadores. Visto que o aluno tem direito constitucional à escola, não se permitia dizer que ele seria expulso da mesma, mas sim transferido para outra unidade. Não se fala mais em expulsão há muitos anos no ambiente em que trabalho, pelo menos não oficialmente, e se nós ou os alunos utilizamos esse termo de forma descuidada, muitas vezes somos corrigidos pelos superiores hierárquicos. Sabemos que, na prática, a escola expulsa o aluno, mas ela nunca diz isso oficialmente, preferindo chamar a ação de transferência. Surpreendeu-me, assim, o uso tão desencabulado desse vocábulo pelos altos escalões da educação.
Segundo, porque, normalmente, a "expulsão" ou transferência de alunos das escolas é processo complicado, chato, delicado e determinado por grande número de variáveis. Quantas e quantas vezes, nesses dez anos de magistério, vi grupos de professores inconformados com a permanência de alunos na instituição em condições e situações absolutamente insustentáveis para a escola! Em post anterior, citei o caso de um aluno que deu um soco numa professora e NÃO FOI TRANSFERIDO. Repare o leitor: ele não quebrou uma carteira, ele agrediu um ser humano, e NÃO FOI TRANSFERIDO. E quando foi discutida sua situação no âmbito das questões internas da escola, em nenhum momento ninguém usou a palavra "expulsão". Há casos graves, alguns até criminais, que não resultam sequer em transferência. Quero crer que, no caso da escola depredada, há que se considerar o fator mídia: quando o acontecimento ganha os jornais e a TV, é preciso mostrar que providências serão tomadas. Mas fica uma impressão ruim: a de que agressões e ações violentas, se não ganham espaço na mídia, são minimizadas e relevadas, ficando restritas às soluções-padrão de "abafa geral" das coordenadorias, enquanto aquelas que viram notícia permitem a construção de um discurso que demonstre força e implacabilidade por parte do sistema.
Não defendo nem condeno as expulsões; essa é uma outra questão na qual nem pensei. Para mim a questão é saber se a preocupação é com a educação ou com a mídia. Porque parece-me que muitos julgam ser mais fácil lidar com a mídia que com a educação. Eu não gosto do "abafa geral", e julgo que a mídia pode jogar a nosso favor se focar o que realmente acontece nas salas de aula e nas escolas em que trabalhamos. O horroroso episódio de hoje me faz pensar que é possível recuperar uma parcela da indignação da sociedade em relação aos problemas enfrentados pelos professores. Só não acho que tenha de ser a esse preço, e por isso acredito que seja necessária uma atitude jornalística mais comprometida com a educação e suas mazelas, que não fique esperando outro espetáculo de bárbarie para tocar nas questões fulcrais que nos dizem respeito.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Causas e efeitos
Reportagem da Folha de São Paulo de ontem (Terça-feira, 11 de novembro, Caderno Cotidiano, C5) tem como título "Procura por carreira que forma professor cai até 58% na Fuvest". Li a matéria, mas ainda não cheguei a conclusões. A procura por Pedagogia e Licenciaturas na Fuvest caiu numa porcentagem bem maior que a da queda das inscrições. Isso provavelmente indica desinteresse pela carreira. Mas o texto termina com a indicação de que cursos semi-presenciais de Pedagogia tiveram um crescimento de 135%. Sem os dados sobre o crescimento dos semi-presenciais em geral não podemos saber se Pedagogia teve, proporcionalmente a outras carreiras, maior ou menor procura. De qualquer forma, parece-me que as pessoas não têm achado que valha a pena sentar quatro anos nos bancos universitários para conseguir a habilitação. Se os dados da reportagem não permitem falar com absoluta certeza em desinteresse pelo magistério, pode-se dizer, por certo, que os estudantes questionam a relação investimento-retorno relacionada à formação para a profissão.
Mas, voltando ao provável desinteresse (acredito nisso, independente desses números), a reportagem traz a opinião de uma série de especialistas sobre quais seriam suas causas. Essas opiniões convergem para uma unanimidade: a baixa remuneração. Todos concordam que o professor ganha mal, tanto na escola pública quanto na particular. Eu, particularmente, acho que essa constatação óbvia tem sido evitada ou minimizada pelas administrações públicas do país, e que há até um esforço ideológico para desacreditá-la (mais de um especialista em educação jura de pé junto que professor ganha bem e maior investimento não significa mais qualidade). Assim sendo, é bom ver que essa idéia começa a incomodar a sociedade com sua evidência gritante, e que isso pode gerar uma movimentação social de apoio a muitas de nossas reivindicações.
Mas, se é para falar de causas (como os baixos salários) em relação a efeitos (a menor procura pela carreira), acho que é de se estranhar que nenhum dos especialistas tenha citado as dificuldades cotidianas dos docentes em salas de aula: violência, desinteresse, carga excessiva de trabalho, assédio moral, ruído excessivo, falta de recursos adequados etc. Esse estranhamento, para mim, é o que motiva a última pergunta da reportagem local ao vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, João Cardoso Palma Filho: "A conduta das escolas em relação aos professores contribui para o desprestígio da profissão?". Simplesmente não entendi a resposta "acho que o problema é basicamente o salário". Definitivamente, o entrevistado abriu mão da possibilidade de citar outros fatores que, para mim, são muito mais decisivos que o salário para a escolha dos jovens. Na verdade, talvez falte coragem para dizer o que as olheiras, o cansaço, o stress, o mal-estar geral estampado no rosto dos profissionais de magistério expressam com tanta veemência: está difícil lecionar. Está difícil voltar para casa com a certeza de ter conseguido contruir algo de positivo. Em muitos casos, e sei que não posso nem generalizar nem particularizar ao dizer isso, as condições têm sido degradantes para os profissionais. Vi muitos colegas ingressantes na carreira, tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura, simplesmente pedirem exoneração, em que pese a segurança e estabilidade de ser concursado. Vejo todos os dias coisas absurdas acontecerem, e ouço todos os dias profissionais que reclamam de coisas absurdas. Não, caro leitor que não conhece a área da Educação, não somos uns chorões! Pelo contrário, a maioria dos profissionais que conheço tem como característica se superar dia após dia diante dos problemas que se interpõem à sua prática.
Não tenho dúvidas de que esses fatores devem ser considerados para que se dimensione adequadamente o desinteresse dos jovens pela carreira do magistério. E também não tenho dúvidas de que, se não estabelecermos como um dos objetivos principais da educação a criação de condições adequadas para um exercício sadio e digno da profissão, não conseguiremos salvar a carreira do desinteresse e da desvalorização social que a atingiram.
Mas, voltando ao provável desinteresse (acredito nisso, independente desses números), a reportagem traz a opinião de uma série de especialistas sobre quais seriam suas causas. Essas opiniões convergem para uma unanimidade: a baixa remuneração. Todos concordam que o professor ganha mal, tanto na escola pública quanto na particular. Eu, particularmente, acho que essa constatação óbvia tem sido evitada ou minimizada pelas administrações públicas do país, e que há até um esforço ideológico para desacreditá-la (mais de um especialista em educação jura de pé junto que professor ganha bem e maior investimento não significa mais qualidade). Assim sendo, é bom ver que essa idéia começa a incomodar a sociedade com sua evidência gritante, e que isso pode gerar uma movimentação social de apoio a muitas de nossas reivindicações.
Mas, se é para falar de causas (como os baixos salários) em relação a efeitos (a menor procura pela carreira), acho que é de se estranhar que nenhum dos especialistas tenha citado as dificuldades cotidianas dos docentes em salas de aula: violência, desinteresse, carga excessiva de trabalho, assédio moral, ruído excessivo, falta de recursos adequados etc. Esse estranhamento, para mim, é o que motiva a última pergunta da reportagem local ao vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, João Cardoso Palma Filho: "A conduta das escolas em relação aos professores contribui para o desprestígio da profissão?". Simplesmente não entendi a resposta "acho que o problema é basicamente o salário". Definitivamente, o entrevistado abriu mão da possibilidade de citar outros fatores que, para mim, são muito mais decisivos que o salário para a escolha dos jovens. Na verdade, talvez falte coragem para dizer o que as olheiras, o cansaço, o stress, o mal-estar geral estampado no rosto dos profissionais de magistério expressam com tanta veemência: está difícil lecionar. Está difícil voltar para casa com a certeza de ter conseguido contruir algo de positivo. Em muitos casos, e sei que não posso nem generalizar nem particularizar ao dizer isso, as condições têm sido degradantes para os profissionais. Vi muitos colegas ingressantes na carreira, tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura, simplesmente pedirem exoneração, em que pese a segurança e estabilidade de ser concursado. Vejo todos os dias coisas absurdas acontecerem, e ouço todos os dias profissionais que reclamam de coisas absurdas. Não, caro leitor que não conhece a área da Educação, não somos uns chorões! Pelo contrário, a maioria dos profissionais que conheço tem como característica se superar dia após dia diante dos problemas que se interpõem à sua prática.
Não tenho dúvidas de que esses fatores devem ser considerados para que se dimensione adequadamente o desinteresse dos jovens pela carreira do magistério. E também não tenho dúvidas de que, se não estabelecermos como um dos objetivos principais da educação a criação de condições adequadas para um exercício sadio e digno da profissão, não conseguiremos salvar a carreira do desinteresse e da desvalorização social que a atingiram.
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sábado, 8 de novembro de 2008
Tocante
Encontrei um aluninho voltando para a favela com sua caixa de engraxar nas costas e uma outra de sapatos, encapada, com uma pequena fresta para colocar moedas, nas mãos. Brinquei:
- Pra que essa caixa aí?
Disse-me que era para pedir gorjetas de Natal. Para provocá-lo, argüi que o Natal era só em dezembro.
- Para a gente rica, é só dezembro mesmo. Para a gente pobre, começa bem antes.
Pois é.
Paro por aqui.
- Pra que essa caixa aí?
Disse-me que era para pedir gorjetas de Natal. Para provocá-lo, argüi que o Natal era só em dezembro.
- Para a gente rica, é só dezembro mesmo. Para a gente pobre, começa bem antes.
Pois é.
Paro por aqui.
Impressões do Congresso - parte 2
O Congresso do Sinpeem terminou de forma meio chocha. Não houve plenária no último dia, e não se discutiu nem um décimo do que estava previsto na pauta. Nas votações, a diretoria obteve algumas vitórias, amargou algumas derrotas, e diminuiu consideravelmente o espaço das discussões com os congressistas.
Entretanto, nesseúltimo dia, tivemos a oportunidade de apreciar aquela que foi, de longe, a melhor das falas entre todos os palestrantes convidados. Ouvimos Gabriel Perissé, falando de leitura, e entregando o produto prometido: em vez de criar uma exposição desinteressante sobre como dar aulas interessantes, bateu numa única tecla, a necessidade de ler constantemente, e usou de ironia, provocação, bom humor, magnetizando a audiência. Piadas como "livro não se empresta e não se devolve" faziam a platéia rir e ao mesmo tempo refletir. Gabriel insistiu num ponto que se associa à idéia central do meu último post. Para ele, é preciso valorizar a palavra, saber usá-la, saber fazê-la incomodar com as pessoas. Isso ele propôs, isso ele fez.
Com uma capacidade tão grande de dialogar com as reações do público, ele acabou quase nem precisando da tecnologia digital. Usou o powerpoint apenas duas vezes, para mostrar curtas histórias de livros infantis ilustrativas de suas falas. Sua oratória e sua capacidade de interagir garantiram com sobras o sucesso da palestra. Para mim, essa dinâmica é a ideal: o recurso tecnológico tem de ser acessório da mensagem, e não o contrário. Gabriel me brindou com um exemplo prático disso.
Gostaria de ilustrar a questão do diálogo com o público descrevendo uma engenhosa artimanha do palestrante, revertendo uma situação que lhe era desfavorável. Em determinado momento, brincando com a audiência, cuja absoluta maioria era de mulheres, Gabriel falou de um camelô que anunciava remédio para feiúra. Ele disse que descobriu que o remédio era "batom, lápis..." e complementou a enumeração com "essas coisas que vocês usam". Essa frase, que era evidentemente uma brincadeira provocativa, foi recebida com bom humor por metade do auditório, e uma indignação ranzinza pela outra metade, que não gostou de ser chamada de feia. Claro, a intenção era apenas divertir pela sacanagem, coisa muito comum entre pessoas mais íntimas. Mas Perissé percebeu que o tiro aparentemente saíra pela culatra. O que fez? Continuou dizendo mais ou menos o seguinte: "quando acordo e olho no espelho, vejo o caos, mas como sou homem, apenas ajeito um pouco e vou trabalhar". O auditório voltou a rir, mas ainda estava com pé atrás. Ele continuou: "minha mulher e as mulheres em geral, não; quando elas vêem o caos, não saem de casa até transformá-lo em cosmos, e para isso usam os cosméticos". A brincadeira foi bem recebida, mas a virada veio depois: "e eu admiro e acho que é por isso que a educação tem tantas mulheres: pelo dom que elas têm de transformar o caos em cosmos". Pronto. O auditório veio abaixo. Aplaudiu calorosamente. O palestrante deu a volta por cima e retomou a empatia do público, graças a sua inteligência comunicacional.
Eu estava no auditório acompanhando tudo isso e pensei: como o cara é bom. Porque o que ele disse é que, se as mulheres conseguem transformar a feiúra (caos) em beleza (cosmos) em relação a sua aparência, podem fazer isso com a educação. Ou seja: ele incorporou de novo no discurso a feiúra das mulheres e a questão dos cosméticos de uma forma que elas aceitaram, em virtude de uma comparação elogiosa. E no percurso dessa incorporação, ganhou a confiança para a sacada final a partir da inclusão de sua própria aparência na mesma lógica, o que contribuiu para amenizar a sensação de ofensa provocada pela brincadeira. Muito esperto, muito inteligente.
Isso é para poucos. Isso a tecnologia, sozinha, ainda não pode conseguir.
Entretanto, nesseúltimo dia, tivemos a oportunidade de apreciar aquela que foi, de longe, a melhor das falas entre todos os palestrantes convidados. Ouvimos Gabriel Perissé, falando de leitura, e entregando o produto prometido: em vez de criar uma exposição desinteressante sobre como dar aulas interessantes, bateu numa única tecla, a necessidade de ler constantemente, e usou de ironia, provocação, bom humor, magnetizando a audiência. Piadas como "livro não se empresta e não se devolve" faziam a platéia rir e ao mesmo tempo refletir. Gabriel insistiu num ponto que se associa à idéia central do meu último post. Para ele, é preciso valorizar a palavra, saber usá-la, saber fazê-la incomodar com as pessoas. Isso ele propôs, isso ele fez.
Com uma capacidade tão grande de dialogar com as reações do público, ele acabou quase nem precisando da tecnologia digital. Usou o powerpoint apenas duas vezes, para mostrar curtas histórias de livros infantis ilustrativas de suas falas. Sua oratória e sua capacidade de interagir garantiram com sobras o sucesso da palestra. Para mim, essa dinâmica é a ideal: o recurso tecnológico tem de ser acessório da mensagem, e não o contrário. Gabriel me brindou com um exemplo prático disso.
Gostaria de ilustrar a questão do diálogo com o público descrevendo uma engenhosa artimanha do palestrante, revertendo uma situação que lhe era desfavorável. Em determinado momento, brincando com a audiência, cuja absoluta maioria era de mulheres, Gabriel falou de um camelô que anunciava remédio para feiúra. Ele disse que descobriu que o remédio era "batom, lápis..." e complementou a enumeração com "essas coisas que vocês usam". Essa frase, que era evidentemente uma brincadeira provocativa, foi recebida com bom humor por metade do auditório, e uma indignação ranzinza pela outra metade, que não gostou de ser chamada de feia. Claro, a intenção era apenas divertir pela sacanagem, coisa muito comum entre pessoas mais íntimas. Mas Perissé percebeu que o tiro aparentemente saíra pela culatra. O que fez? Continuou dizendo mais ou menos o seguinte: "quando acordo e olho no espelho, vejo o caos, mas como sou homem, apenas ajeito um pouco e vou trabalhar". O auditório voltou a rir, mas ainda estava com pé atrás. Ele continuou: "minha mulher e as mulheres em geral, não; quando elas vêem o caos, não saem de casa até transformá-lo em cosmos, e para isso usam os cosméticos". A brincadeira foi bem recebida, mas a virada veio depois: "e eu admiro e acho que é por isso que a educação tem tantas mulheres: pelo dom que elas têm de transformar o caos em cosmos". Pronto. O auditório veio abaixo. Aplaudiu calorosamente. O palestrante deu a volta por cima e retomou a empatia do público, graças a sua inteligência comunicacional.
Eu estava no auditório acompanhando tudo isso e pensei: como o cara é bom. Porque o que ele disse é que, se as mulheres conseguem transformar a feiúra (caos) em beleza (cosmos) em relação a sua aparência, podem fazer isso com a educação. Ou seja: ele incorporou de novo no discurso a feiúra das mulheres e a questão dos cosméticos de uma forma que elas aceitaram, em virtude de uma comparação elogiosa. E no percurso dessa incorporação, ganhou a confiança para a sacada final a partir da inclusão de sua própria aparência na mesma lógica, o que contribuiu para amenizar a sensação de ofensa provocada pela brincadeira. Muito esperto, muito inteligente.
Isso é para poucos. Isso a tecnologia, sozinha, ainda não pode conseguir.
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terça-feira, 4 de novembro de 2008
Impressões do Congresso
Passo esta semana inteira no Congresso do SINPEEM, que se realiza no Anhembi. Hoje foi o primeiro dia, com direito a fila de duas horas para almoçar.
Devo dizer, em primeiro lugar, que sendo este um blog dedicado aos professores e a seu valor, exporei minhas impressões de maneira inversa à que me veio à cabeça. Quando vi a fila para o almoço começar a ser formada uma hora e meia antes do fim do evento do qual participávamos, e o auditório quase completamente vazio antes do fim da fala dos convidados, pensei algo. Algo que engoli, degluti e transformei em: parabéns àqueles que, como eu, permaneceram no auditório até o fim do painel, gostando ou não gostando do que se dizia, por respeito a quem palestrava e à condição de delegados eleitos para posteriormente multiplicar as informações conseguidas no evento. Parabéns a esses.
Devo dizer, agora, que me incomoda uma certa (neologismo absurdo, eu sei) powerpointização da educação. As apresentações em computador são bonitinhas. Mas os slides são interessantes se trazem imagens para enriquecer as falas, dados relevantes para o raciocínio ou frases que importa detalhar. Para todo o resto, fica excessivo: frases de efeito, gráficos e esquemas para simplificar o que está sendo dito, florezinhas e bichinhos, vídeos que só com muita boa vontade podemos associar à exposição. É importante ressaltar que a palestra NÃO É o PowerPoint. O recurso não pode substituir o conteúdo. E nada, nada mesmo, substitui uma argüição convincente, bem construída, e um diálogo bem conduzido de dúvidas e contestações.
Acho desnecessário tentar esquematizar todos os raciocínios, ou estabelecer gráficos e ilustrações para toda idéia exposta. Acho bobagem transformar os momentos (raros ultimamente) de contato espontâneo entre pessoas em uma festa de distrações coloridas e facilitações mentais. Acho cruel às vezes recebermos apostilas que são tão-somente apresentações em PowerPoint impressas em preto e branco, como se ali estivesse um passo-a-passo esperando apenas ser assimilado, consumido e colocado em prática.
Meus alunos na faculdade também têm essa mania. Isso precisa mudar. Julgo que seja um modismo calcado muito mais na insegurança em relação à exposição oral que na convicção da qualidade e capacidade de persuasão do material visual.
Devo dizer, em primeiro lugar, que sendo este um blog dedicado aos professores e a seu valor, exporei minhas impressões de maneira inversa à que me veio à cabeça. Quando vi a fila para o almoço começar a ser formada uma hora e meia antes do fim do evento do qual participávamos, e o auditório quase completamente vazio antes do fim da fala dos convidados, pensei algo. Algo que engoli, degluti e transformei em: parabéns àqueles que, como eu, permaneceram no auditório até o fim do painel, gostando ou não gostando do que se dizia, por respeito a quem palestrava e à condição de delegados eleitos para posteriormente multiplicar as informações conseguidas no evento. Parabéns a esses.
Devo dizer, agora, que me incomoda uma certa (neologismo absurdo, eu sei) powerpointização da educação. As apresentações em computador são bonitinhas. Mas os slides são interessantes se trazem imagens para enriquecer as falas, dados relevantes para o raciocínio ou frases que importa detalhar. Para todo o resto, fica excessivo: frases de efeito, gráficos e esquemas para simplificar o que está sendo dito, florezinhas e bichinhos, vídeos que só com muita boa vontade podemos associar à exposição. É importante ressaltar que a palestra NÃO É o PowerPoint. O recurso não pode substituir o conteúdo. E nada, nada mesmo, substitui uma argüição convincente, bem construída, e um diálogo bem conduzido de dúvidas e contestações.
Acho desnecessário tentar esquematizar todos os raciocínios, ou estabelecer gráficos e ilustrações para toda idéia exposta. Acho bobagem transformar os momentos (raros ultimamente) de contato espontâneo entre pessoas em uma festa de distrações coloridas e facilitações mentais. Acho cruel às vezes recebermos apostilas que são tão-somente apresentações em PowerPoint impressas em preto e branco, como se ali estivesse um passo-a-passo esperando apenas ser assimilado, consumido e colocado em prática.
Meus alunos na faculdade também têm essa mania. Isso precisa mudar. Julgo que seja um modismo calcado muito mais na insegurança em relação à exposição oral que na convicção da qualidade e capacidade de persuasão do material visual.
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