segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais uma reunião de representantes do SINPEEM

Mais uma reunião de representantes do SINPEEM. A dinâmica de sempre: primeira parte com exposição de especialistas sobre temas relacionados à educação brasileira, segunda parte dividida entre longos informes e alguns poucos debates de propostas.
O SINPEEM é, para o bem ou para o mal, o sindicato de Claudio Fonseca. Ninguém pode dizer que o extraordinário crescimento da entidade, que é a maior de São Paulo e provavelmente do Brasil para a categoria, não seja mérito da luta, persistência e dedicação de seu atual presidente. O Claudio é um político hábil, com discurso forte e inegáveis capacidades de persuasão e negociação. Quando são colocadas propostas em votação, dificilmente a categoria vota contra a proposta por ele defendida. Além disso, parece que transita bem nas esferas de poder do Executivo e do Legislativo. Tanto que conseguiu se tornar vereador e cultiva bom relacionamento tanto com o secretário da educação quanto com o prefeito. E tudo isso mantendo-se como presidente do SINPEEM.
Que fique claro aqui que não sou "claudista". Pelo contrário, sempre manifestei discordâncias em relação a condução de reuniões e certos rumos da atuação de nosso presidente, principalmente quando recuamos da greve que realizávamos no início da administração Kassab. O que não posso fazer, entretanto, é negar os fatos. A categoria gosta do Claudio, confia nele, acata o que ele diz, e a oposição nunca conseguiu lidar de forma inteligente com essa relação. A história de Claudio Fonseca enquanto líder sindical não é algo que se possa jogar pela janela ou esconder debaixo do tapete, ainda que discordemos do que ele venha a fazer. Os professores percebem isso, mas os opositores, infelizmente, não, e atacam com uma agressividade que espanta as parcelas menos politizadas da categoria. Resultado: no fim, Claudio sempre vira o jogo para ele. Temos de reconhecer.
Em relação a isso, tenho alguns receios. O primeiro é o de que a liderança que o Claudio exerce não encontre equivalente sucessório no âmbito da entidade, o que é muito provável, pois não me parece que haja líderes tão personalistas nem na situação, nem na oposição. É claro que esse vazio pode até ser bom, pois haveria a posssibilidade de que uma alternância no poder implicasse em um incremento na atuação dos diferentes grupos.
O segundo receio é um pouco mais pesado. Com erros e acertos, decisões corretas e incorretas, conquistas e recuos, a permanência do Claudio no poder por tanto tempo (nem sei quantas vezes foi reeleito) criou uma condição absolutamente curiosa: a oposição parece que se conformou com isso. Em momentos de maior embate político, as reuniões de representantes foram marcadas por ferozes discussões, discursos inflamados, acusações mútuas, explosões de ânimo. Faz já algum tempo que isso não acontece. As reuniões tem sido mornas, sem grandes sobressaltos, com concordâncias quase universais entre as diversas correntes de política sindical. Se posso encontrar uma explicação minimamente satisfatória para essa capitulação, creio que está, novamente, na habilidade do presidente: Claudio tem inteligência de abrir espaço para a oposição no Conselho do SINPEEM e colocar membros de diversas correntes em cargos dentro da entidade. Assim, as decisões, mesmo as mais questionáveis, deixam de ter apenas seu DNA personalista, e passam a contar com a assinatura e o compromisso das alas de oposição. Ora, isso praticamente liquida com a possibilidade de uma postura mais contestatória, o que pode ser muito perigoso: precisamos, sempre de antagonistas nas narrativas. O movimento dialético do pensamento não pode se realizar sem o contraditório, sem o outro, sem o que nega e se opõe; podemos não gostar da maneira como esse contraditório se manifesta, mas não podemos viver sem ele. Seria um risco muito grande.
Esses meus dois receios relacionam-se, em suma, a perspectivas futuras: o que acontecerá com um sindicato do tamanho do SINPEEM se o Claudio continuar com um domínio tão absoluto das ações políticas e a oposição não conseguir construir uma pauta que congregue a categoria? O que acontecerá com nossas conquistas no dia em que o Claudio sair e não houver organização suficiente nem clareza de objetivos para seu sucessor na entidade? Como poderemos cobrar o Claudio em questões que exigem atuação mais enérgica do sindicato ou em erros que ele vier a cometer, ou mesmo em atitudes autoritárias que ele puder realizar em função de sua folgada condição de liderança, se a oposição silenciar em função de acordos internos?
São perguntas que não serão respondidas tão cedo, mas que exigiriam certo esforço de reflexão da categoria nos próximos anos.

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