Este foi o ano mais difícil de minha carreira como professor. Por isso, quero fazer menção, nesta postagem, apenas àquilo que realmente foi bom. Dadas as dificuldades e os problemas enfrentados, as conquistas se tornam ainda mais valorosas.
Gostaria de terminar 2009 pensando em que iniciativas posso manter para 2010. A ideia, na verdade, é citar apenas as ações que podem ser repetidas ou desenvolvidas, e as apostas que ainda não descartei para um trabalho a longo prazo. Por isso, trata-se de uma "retroexpectativa"*: falo do que passou como ponte para o que pretendo.
Uma das experiências que se mostraram válidas foi o sistema de pontuação, que aperfeiçoei no decorrer do ano. Adaptado da didática da professora Yumi Kodama, minha colega de trabalho, o sistema conseguiu o efeito de estimulação por reforço positivo que eu esperava. Os alunos demonstraram maior empenho e as atividades que realizaram ganharam mais visibilidade para eles mesmos, para o grupo e para o professor. Consegui atenuar o problema da desigualdade de desempenhos como fator de desestímulo ao criar equipes mistas e estabelecer pontuações para a classe, que dependiam da participação de todos. Alunos e pais gostaram da ideia e a encamparam, parabenizando-me por tê-la colocado em prática. Ainda preciso corrigir alguns problemas para 2010: primeiro, a tendência a mecanizar a realização das atividades pontuadas (os problemas de compreensão de leitura e reflexão limitam a gradação paulatina das dificuldades, que seria necessária); segundo, a agressividade competitiva advinda da comparação de desempenhos (que foi, na verdade, muito menor do que eu supunha, mas que existiu em alguns casos); terceiro, a implementação de atividades coletivas mais criativas e calcadas em recursos mais atraentes.
Outra das coisas que quero manter para o ano que vem é o ritmo de estudos que adquiri por ocasião do concurso da Prefeitura. Mesmo sabendo que deixei de ler quase um terço da bibliografia, percebi que consegui informações muito úteis e pude refletir sobre minha prática sob outros pontos de vista. Senti muita falta de referencial teórico para desenvolver meu trabalho durante todo o ano, pois acho que as horas de trabalho coletivo não prestigiaram essa demanda. O concurso salvou meu ano de ser uma completa estagnação nesse sentido. Se eu puder manter o mesmo nível de exigência pessoal de atualização, creio que poderei trazer mais e melhores novidades para a escola.
Uma iniciativa que pretendo implementar em definitivo no ano que vem é a postagem constante de atividades, eventos e realizações dos alunos no blog da escola. Penso que esse blog deve ser independente, e gerenciado pelos coordenadores e pela direção. Consegui construí-lo, mas faltou tempo para postar e, principalmente, conhecimento do amparo legal para utilização de fotos dos alunos nas várias atividades desenvolvidas. É perfeitamente possível mudar tudo isso rapidamente, com a ajuda dos meus colegas mais "internéticos".
Do ponto de vista do conteúdo, este foi o primeiro ano, em toda a minha vida profissional no ensino fundamental, em que consegui vencer todos os pontos programados para todas as turmas. Foi uma experiência e tanto, mas sinto que isso acabou custando caro em termos de aprofundamento e atividades de leitura, que seriam o principal objetivo da minha prática. Duas turmas foram severamente prejudicadas, pois ficaram sem livro o ano inteiro. Nas outras, consegui, até desenvolver um dia de leitura, sistemático e aberto à participação de todos. Mas ainda é pouco. As carências são enormes, precisamos de mais material didático escrito, livros, apostilas, textos, etc. As crianças deveriam ficar em definitivo com os livros didáticos distribuídos. Os pais deveriam assinar termos de responsabilidade sobre esse material, comprometendo-se a repô-los no caso de perda. Livros deveriam ser o recurso por excelência da educação, ainda mais com o investimento que o governo vem fazendo na melhoria das habilidades de leitura e escrita. Mas não posso contar com isso, e devo rever as práticas no sentido de compensar essas carências estruturais.
Outro ponto que pretendo rever no próximo ano é a utilização de recursos audiovisuais. Praticamente só os utilizei no último bimestre, mas pude perceber que houve boa receptividade. Acredito que posso criar uma dinâmica mensal ou bimestral com filmes e músicas, como sempre fiz em Sala de Leitura. Este ano, optei pelo conteúdo escrito em detrimento dessa parte; não pretendo fazer isso ano que vem. Quero experimentar um investimento maior na ponte entre imagens e palavras, com todos os cuidados que sei que esse trabalho implica. Continuo achando que a escola deve ser o ambiente privilegiado da cultura escrita, mas o audiovisual bem utilizado tem condições de colaborar nesse sentido, como demonstraram minhas experiências com o filme "Olga".
Saldo? Alunos que nada faziam começaram a trabalhar nas minhas aulas. Tenho o respeito e o carinho da comunidade, em reconhecimento à seriedade de meu trabalho. Raramente vivencio problemas de desrespeito explícito ou agressão, e percebi mudanças significativas em termos de postura de leitura nas classes onde consegui estabelecer as dinâmicas citadas. Acho que tudo valeu a pena, mesmo os erros cometidos.
A tudo isso devem ser acrescidos dois fatos importantes, externos ao trabalho na escola, mas que podem influenciar muito minha vida de professor nos próximos meses: a aprovação no concurso para coordenação e o avançado encaminhamento de minha licenciatura em Pedagogia. Pode ser que essas sementes desabrochem em 2010, fazendo com que eu tenha de recomeçar a vida profissional numa outra situação. Apesar disso, estou certo de que não sairei do zero. Tudo o que aprendi e conquistei em meio a tantas dificuldades e problemas carregarei como um trunfo moral e intelectual.
Que venham os novos desafios!
* Perdoem-me, mas achei a palavra engraçadinha e resolvi colocá-la no título da postagem. Não levem a sério o processo de composição, não tem nenhum rigor morfológico, nem nenhuma lógica profunda embutida. :-)
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