Acabei de responder a um questionário enviado por uma ex-aluna sobre o trabalho do pensador brasileiro Rubem Alves. Deixo três das respostas aqui, como síntese de minhas reflexões.
Rubem
Alves defende uma escola com um “professor de espantos”, ou seja, ele não teria
disciplina específica, sua função seria de provocar a curiosidade aos alunos e
ouvi-los. Você acredita na necessidade deste tipo de professor?
O “professor de espantos” pode funcionar em
uma escola experimental, sem a pressão de um currículo oficial ou de formar
cidadãos para exercer funções na sociedade. Essa figura serve como um paradigma
interessante e belo, mas não tem condições de se efetivar como parâmetro
profissional nas condições históricas da educação. Há momentos em que se pode
ser “professor de espantos”, porém essa condição se restringe a determinadas
aberturas na relação professor-aluno, em condições igualmente determinadas.
Acredito que o professor deve, sim, lecionar uma disciplina específica e deve
aproveitar a curiosidade dos alunos dentro de uma estrutura de aula e de escola
em que estudar, ler e aprofundar conhecimentos sejam atividades capazes de
assimilar essa curiosidade.
Rubem
Alves defende o fim do vestibular, pois segundo ele “A maior importância dos
vestibulares está precisamente nisso: as deformações que eles impõem sobre a
educação que os antecede” (Casa de Rubem Alves - conversas com educadores- http://www.rubemalves.com.br/ofimdosvestibulares.htm). O que essa medida implicaria nas propostas educacionais dos
dias de hoje?
O vestibular existe porque a Universidade brasileira é um projeto de
elite. Ele já vem sofrendo numerosas modificações em função do ENEM, do PROUNI
e de outras ações governamentais. O fim dos vestibulares implicaria obviamente,
um novo sistema de seleção para os cursos superiores. O que aconteceria, em
minha opinião, seria a adaptação do ensino médio às exigências desse novo
sistema de seleção. Na prática, isso não representaria melhoras nem prejuízos,
apenas um deslocamento de foco de uma determinada formatação de currículo para
outra.
Em que o perfil literário de Rubem Alves influencia na sua
carreira, o que mais lhe chama atenção?
Rubem Alves é
um sonhador da educação, com belos textos e colocações provocativas. É um autor
que traz boas ideias e incentiva a experimentação, a mudança e a inventividade.
Desde que não seja lido como um guru e sim como um animador filosófico da
profissão, é alguém que pode contribuir para o crescimento profissional do
professor.