Eu ando pelas ruas do bairro em que moro (Campo Belo, na cidade de São Paulo). Freqüentemente ouço vozes que me chamam, vejo mãos que me acenam, percebo sorrisos nos rostos dos que me olham. Minha condição de professor me faz referência de várias crianças.
Ser referência não é o mesmo que ser exemplo, ou ser popular. Acho que está relacionado a ser alguém em quem você deposita alguma confiança, ou que você respeita em função de determinado valor. É certo que nós, professores, temos uma condição de poder em relação aos alunos, mas também somos parâmetro imediato e próximo de muitas das avaliações que eles fazem da experiência que carregam. As aulas, muitas vezes, são o único espaço em que eles podem desenvolver, sem a pressão do dia-a-dia, as reflexões acerca de si próprios e de sua condição de estar no mundo. Além disso, parece-me que, para muitos alunos, somos as únicas figuras do serviço público que eles encontram constantemente e com quem têm contato além do profissional (nossa relação com os estudantes é diferente da do médico com os pacientes ou do policial com os cidadãos).
Sinto-me recompensado toda vez que percebo o carinho e o respeito com que sou tratado. Sinto-me reconhecido tanto por meu desempenho profissional quanto pela importância da profissão que exerço. Creio que, se não fosse isso, dificilmente resistiríamos às condições de trabalho que encontramos nas escolas e à necessidade de convivermos diariamente com a violência e a miséria humana em suas diversas configurações.
Tenho comigo que exerço a profissão mais importante da sociedade, e a mais política (no sentido verdadeiro da palavra), sem sombra de dúvida. E penso também que a sociedade brasileira ainda não percebeu a importância dos professores para a construção da cidadania. Quando as crianças nos cumprimentam e nos prestigiam, penso que no futuro, talvez, elas venham a constituir uma sociedade mais atenta a essa questão.